sexta-feira, 9 de março de 2012




O homem da nuvem escura de Inês Vinagre, a escritora que se encontrará com os alunos do 5º ano no dia 22 de março.


"Recuperando o imaginário tradicional, a autora constrói uma narrativa onde é visível o processo criativo que utiliza para recriar aquela herança e alguns dos seus motivos, tematizando a questão da diferença e do seu lugar no mundo. O herói, que empresta o nome ao livro, passa por um longo processo de inadaptação e de estranheza em relação aos outros. A sua diferença causa-lhe inúmeros problemas até ao dia em que encontra alguém capaz de o equilibrar e complementar. As ilustrações, muito expressivas, pontuam uma narrativa que, apesar do formato do livro e das opções gráficas, não pode ser lida como um álbum."


Ana Margarida Ramos
Área Temática Tradição, Maravilhoso, Aventuras, Afectos, Imaginação
In Casa da Leitura
..................

"Um homem com uma nuvem sobre a cabeça, que o acompanha para todo o lado, e gera chuvadas sem fim, pode ser um enorme incómodo. A torrente alaga tudo, um autêntico cataclismo (“eram ruas alagadas, casas inundadas, árvores derrubadas, máquinas avariadas”) e gera um sentimento de ostracismo, afastando todos, “numa determinada cidade, que aqui não importa referir, num determinado tempo que aqui não interessa dizer”. É isto que descobre “o homem da nuvem escura” (Opera Omnia), nesta história escrita por Inês Vinagre, ilustrada por SebastiãoPeixoto e já distinguida com o Prémio Juvenil Ferreira de Castro e Prémio Jovens Criadores. O homem, “assim, sem tirar nem pôr, sem direito sequer a um nome com letra maiúscula”, refugiava‐se no parque, onde lia e fingia ver pessoas. Restavam‐lhe as histórias dos livros e as palavras que sublinhava, para depois as escrever num bloquinho azul. Os restantes habitantes desesperavam. Várias foram as tentativas para resolverem o problema que tanto os atormentava, como um reputado médico da capital, um cientista estrangeiro com fama de lunático ou uma bruxa “toda aperaltada, sem verrugas no nariz, nem dentes podres, uma bruxa elegante e bem educada”. Nada parecia resultar.


A história é contada num estilo divertido, com interessantes soluções gráficas, como o quadro “O Grito”, de Edvard Munch, logo numa das páginas iniciais, alusão simbólica ao estado de espírito do nosso protagonista, ou o texto disposto de acordo com as linhas onduladas da máquina do cientista ou as curvas da rua. O narrador cria espaços de interacção com o leitor, como quando pede ao ilustrador para “rabiscar qualquer coisa”, de modo a explicar onde fica o cocuruto da cabeça, ou se desculpa, na descrição do cientista, pela falta de originalidade: “não fui eu que escrevi esta história, vão lá reclamar com o responsável”. No final, a amizade e a cumplicidade geram laços, demonstrando como nos podemos completar uns com os outros e, quando investimos nas relações, as contrariedades tornam‐se menores. Não sabemos bem o final da história… ou melhor, cada um saberá por si, diante do tal caderninho onde ficam registadas as palavras sublinhadas."


in Revista Os Meus Livros, número de Fevereiro

Sem comentários: